sexta-feira, 14 de agosto de 2009

lunar . 1996





1
a domesticidade 
me sirvo de nada
ao relento
sobre os vasos
o muro roído de sol

2
geografia, cosmografia, mecânica
números, algarismo
o animal em torno
a vertigem extensa

3
o enxame das folhas
o ar imóvel, as lembranças soltas
a carruagem enfeitada de fitas

4
a velocidade da luz
a felicidade do cão
a alquimia do verso

5
a lua negra 
os mares e fábulas
as sereias, a casa

6
as ciências clássicas
a ordem dos canteiros
os brinquedos infantis

7
um líquido desenho singular
esta curva, aquela arqueada
ângulo oblíquo sobre a primeira

8
a banda irlandesa
o vinho da caverna

9
impossível exprimir a noite desse céu
o brilho na escadaria dos mistérios
o inexplicável azul entre os juncos

10
a acidez geológica da tinta 
a curva através da aresta 
a linha do oriente
a concha marinha e humana

11
pela vidraça convexa
a carruagem dá voltas na relva

12
a fonte
o ângulo 
o turbilhão da luz

13
modo e parte
maré e ciclos

14
o betume se recurva
a lua na hera

15
há estalagens e princesas
os raios azuis e o perfume
a lua nos lábios

16
a aplicação de cálculos
a posse midiática
a máquina de  fractais
um ser imaterial escapa à revelia

17
a claridade do outono
o rumor das correntes
o infinito matemático

18
declive singular no vão
a intersecção da luz
a magia do ponto

19
repousa
a luz diluviana da caixa
o gesto tecnomotriz
os números fugazes

20
o mar
o peso dos astros
o que perdura e passa

21
o céu arfante
as pedras vastas
o vento da arrebatação

22
a lua que muda com as estações
vermelha ao cio da afeição
azul ao intento

23
o limo que a lua azula
o cão vermelho
as cadeiras roídas de espaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário