segunda-feira, 10 de agosto de 2009

faber . 1994

 

1
os poemas espessos
as pessoas linhas


2
um néon devorador
circunstâncias
abismos


3
enrolo-me perto
como cão antigo


4
o relógio de sol
o beco no quintal
a palavra estrelada


5
o algarismo para o limite
a palavra no verso


6
como um gato
a tarde gira


7
o discurso inútil
a palavra vã


8
cai um raio
no seu enquanto
a parcela da divindade


9
malabarismo 
mágica na palavra


10
caixa de curiosidade
tampo de vidro


11
do isolamento
ao olhar do cão
o deus de michelângelo


12
abranda a tempestade
replicante
a paixão por bonecas

a idade da solidão . 1994








1
poeta

mistério, magia
ilusão

nada é


2
a noite cai
à beira
inutilidades


3
o que mais
o que nunca


4
sempre individuo
multidão é terrível


5
amanhece
na água
a árvore


6
o poema vê com poros


7
nada se transfere
brotam horas


8
a palavra dá solução a tudo

aos inocentes
aos bem aventurados
aos que são consolados


9
histórias
confidências
poemas


10
tanto
quanto


11
em volta
a palavra
cifra


12
a poesia
o ar

abril .1993



"dizer! saber dizer! saber existir pela voz escrita
e a imagem intelectual! tudo isto é o que vale:
o mais é homens e mulheres, amores supostos
e vaidades factícias, subterfurgios da digestão
e do esquecimento."
fernando pessoa






1
ao pé da cadeira
o olhar confiante do cão
estranho, estranho

sincero


2
dizia ser jardineiro
colhia horas
como quem colhe rosas


3
universo ou útero
a solidão do sol


4
dias lentos
entendo fausto
quem ama perde a alma


5
nem de todo poema
nem de tudo solidão


6
esta palavra indecifrável
insisto
como quem deixa o paraíso
uma parte resiste
insisto
como deus
como um cachorro que late


7
amor

bicho
vício
porta de precipício


8
re soando a solidão
a palavra nada


9
tudo mudo
nada muda


10
o
que
importa
o
longo
tempo
que
o
tempo
leva
a
formar
a
pedra


11
exata
a alma encolhe
e cala


12
a palavra
deve ser própria
de algumas pessoas
em outras
apenas para marca de ferro
como em gado


13
memória

rosa
maria rosa, rosa clara
rosali
roseli (rosa)

aço e tempo


14
todo dia conto os dias
procuro no deserto a sede


15
sinto a indiferença do dia
- dou a face e a outra -
meu olhar esgueirado:
se perde pela vida
me visto de pedra



16 
torre de babel. ursprache
toda palavra é literatura
nomine dei. divertissement

para
anamaria