segunda-feira, 10 de agosto de 2009

abril .1993



"dizer! saber dizer! saber existir pela voz escrita
e a imagem intelectual! tudo isto é o que vale:
o mais é homens e mulheres, amores supostos
e vaidades factícias, subterfurgios da digestão
e do esquecimento."
fernando pessoa






1
ao pé da cadeira
o olhar confiante do cão
estranho, estranho

sincero


2
dizia ser jardineiro
colhia horas
como quem colhe rosas


3
universo ou útero
a solidão do sol


4
dias lentos
entendo fausto
quem ama perde a alma


5
nem de todo poema
nem de tudo solidão


6
esta palavra indecifrável
insisto
como quem deixa o paraíso
uma parte resiste
insisto
como deus
como um cachorro que late


7
amor

bicho
vício
porta de precipício


8
re soando a solidão
a palavra nada


9
tudo mudo
nada muda


10
o
que
importa
o
longo
tempo
que
o
tempo
leva
a
formar
a
pedra


11
exata
a alma encolhe
e cala


12
a palavra
deve ser própria
de algumas pessoas
em outras
apenas para marca de ferro
como em gado


13
memória

rosa
maria rosa, rosa clara
rosali
roseli (rosa)

aço e tempo


14
todo dia conto os dias
procuro no deserto a sede


15
sinto a indiferença do dia
- dou a face e a outra -
meu olhar esgueirado:
se perde pela vida
me visto de pedra



16 
torre de babel. ursprache
toda palavra é literatura
nomine dei. divertissement

para
anamaria









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