sábado, 17 de outubro de 2020

coisas assim . 2020

 



1
a ausência da passagem
a melancolia do tempo


2
silêncio

silencio

silêncio



ornamentos da memória
coisas despercebidas
inimaginados lugares



um pouco de tudo
resta mínimo


5
as coisas impessoais
a paisagem temporal
as cores e os tons


6
calo caibo
falo caibro


7
noite profunda
o mosaico do jardim


8
desconstruir
extrair
trair


9
o ar  
o animal em torno
a vastidão


10
prisão e saber
cegueira e prazer


11
referir
inserir
rir


12
texto 
testo  
contexto contesto 


13
a questão
a tensão
o tesão  


14
jogo
lance dado
acaso


15
a domesticidade
a magia do relento
o muro roído de sol


16
dogma 

tudo
é
nada


17
a calma celeste
a água do bosque
a felicidade dos animais


18
alquimia
trilogia
magia


19
o cata-vento azul
os musgos azinhavres
a carruagem feita de fitas


20
a lua negra no ninho acima
as brumas, os mares, as fábulas
magia, encantamento


21
na extremidade da sala
o pouso que a luz cria


22
cortes, frisas, atmosferas
o betume da noite fria
as últimas ervas


23
os muitos dias das estações
as chuvas, o vento, o fruto


24
a indolência
os perfumes tênues
o imprevisto que se oferece


25
a cidade
a geometria lúdica do breve
a banal paisagem


26
felicidade
nada cabe
em nada


27
etéreo  
na penumbra
o acaso


28
o poema breve 
o cão deitado perto
o outro lado do mesmo muro


29
canteiros
as coisas não ditas
a calma perfeita


30
caixas 
confidências
desvelos


31
pedra  
maresia
inquietude


32
flores formas 
o detalhe repete
a palavra revive


33
invisíveis
as raízes
os ventos 


34
as flores 
nas touceiras 
a cor
 ocre da madeira 
as incógnitas falas


35  
lírios
o portão de ferro
a sedução


36
a história os nomes
mistério  memória
a ponta cerrada do fio


37
o tempo rodeia a casa
o esconderijo, o jardim
a solidez da noite


38
o cão ao lado
a lua que brota
as coisas práticas


39
as árvores do pátio
o sótão abrigo
o baú do luar


40
quase ausente
os 
fragmentos  
os acenos 


41
a claridade invade
a sombra do muro
o que não cicatriza


quarta-feira, 20 de julho de 2011

o nome do arquivo . 2011














1
o cavalo chamado sonho
a pastora fiel
os nomes dos animais eram poemas


2
dias de roça
o avô
a vida que espera


3
a cama antiga, a penteadeira
o mesmo entalhe, o espelho de cristal
o súbito entreter


4
passos nas tábuas
o perfume do chá
o sentimento vaga


5
os estados da alma
os signos e adjetivos
o quanto, o quando


vento, bicicleta, cadeira
linha e movimento


7
quase digo seu nome
calo
o amor assim
no silêncio


8
as letras do alfabeto
a amplidão
o vasto deixado

segunda-feira, 25 de abril de 2011

constitution hill . 2011







1
querença de sonho
o braço reclama
o movimento

2
quase desenho
sentimento sobre linhas

3
vaivéns
a canção de galos

4
cachoeiras e estrelas
chuvas feitas
contentamento

5
algo preenche
algo passa

6
o amar fora do amar
as palavras tolas

7
o horizonte limita
atrás e adiante

8
a solidão
o pão que não basta

9
o indetermino 
o desejo
a negação

10
sinto-me
silencio-me

11
deixo-me criança
quase triste

12
o amor absoluto
a primavera em teerã

13
fetiches
metáforas
profundidades

14
os mantos sômbrios
as aves aparições
o abismo de estrelas

15
a paisagem possível
o advérbio junto ao verbo
as coisas para contar

16
a noite 
as estrelas
o etéreo

17
em vão
ou não

domingo, 22 de novembro de 2009

a leste do éden . 2010






o declive
as curvas toscas

tramas
nós de néon
artifícios

 
traços, traçados
afluências
o incomunicável e o insólito

as pessoas anônimas
as possibilidades roliças

ondulante
da forma ao essencial
a vertigem da curva

a linha reta
a outra inversa

a profusão de cores
as formas torneadas
os myrtos e as rosas

a vida intrínseca
a simplicidade e a ordem

os dilemas, as hesitações
a parede nua

10
precipita no abismo 
a asa do excesso

11
a astúcia devora vazios

12
os vestígios 
as minudências 
a noite funda 

13 
linha, letra e cor
sobre 
letras, linhas e cores

14
narrativa
discurso
entranha

15
alinhamento
afinidade

16 
a rasura 
a sobreposição
os ornatos

17 
sentidos
fingidos




sexta-feira, 13 de novembro de 2009

a cidade invisível . 2009







1
trocas, encontros, caminhos
o sabor quente, a cidade vazia

a palavra atenta
sempre, antes, após

3
o vão dos dedos
a matéria esquecimento
atravessa

4
o cair dos dias
a pele bordada em outra
o atalho entre as costelas
o bosque avermelhado
a companhia das lobas

5
rubi
o corpete branco
a fruta meio mordida

6
outro corpo ao meu 
outro gozo no meu
outro ainda eu

7
roucas palavras
sensações 
ócio de licores

8
uva, vulva, ervas
os cheiros, os gozos
as lavras corpóreas

9
o romper do gozo 
o fio do dorso curvo

10
o fechar da tarde
aquieta o redor

11
retorno e fecho-me
afago a ausência
o poema guardado
o olhar empoeirado 

12
poucas palavras
a hora de recolhe águas

13
nuas linhas
o rastro que marca a lesma

14
os ciclos  femininos
a precisão e o excesso
o espaço da fúria e da fragilidade

15
a insaciedade
linhas, fitas, pedrarias
o lugar e o tempo

16
ranhuras, rasuras
o fogo no ventre
os véus e vãos

17
do negro ao azul
o mesmo e o início
ritos e poemas

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

armadilhas do inventário . 2005








o que sobra?
ranhuras, calafrios, 
gestos
os indícios, a felicidade
as artimanhas e a luz
os sentidos dos arredores

assim
ante ao alfabeto
no vai e vem de palavras
a memória ambulante 
altera as rotas e ritos

qual a razão do ar
da correnteza, do desejo
da palavra que preenche 
as marcas aparentes 
ácidas 

o impossível da escolha cotidiana
das contas íntimas 
da camuflagem, dos reflexos
da ferrugem, do fuso de delírios
o poema embaralha, embriaga
intervala coisa e nada


a chuva cai
a paisagem chacoalha
o quintal, a fonte, o beco
o muro da adivinhação
o dragão que mora dentro do agora


mapas, astrolábio
as coisas iguais
o tempo em mim
tanta coisa nenhuma
o acaso venta
os sonhos na madrugada
o que desaparece
mesmo durando
mesmo não sendo  o que não foi 


a manhã serve-me os dedos do vento
sirvo-me a manhã 
a pele do amar
a sorte e as redondezas
o invisível segura o instante
no diário de vidro

o lápis, a tralha, o proveito
o sal, o sereno
a palavra atropela a palavra
o dormir e o acordar
a geografia do vento
o mar

o artifício das mãos
o desejo de eternidade
as rezas, as pedras
passeio na fantasia
a sala de sol
a conversa qualquer que vem


flores, vasto, ar
 tarde
o que cabe de mim
desenho de dentro, avesso
a vastidão quando fecho os olhos
na pausa da tarde
nas águas nuvens

o outro dia
o silêncio quase vermelho
um vermelho laranja
traço rotas
recorto o ar
nos passeios de bicicleta
nos arredores 
o vento em mim
eu aqui

para que lado penso
quantos lados tenho
o que penso agora
altero os ritos, os ditos
as vírgulas, o quase
o nada e a névoa
as escalas, o outro lugar

na bolha do meu peito
o desejo de ser maior
de ser poeta
no atropelar do vento
nas minúcias e minudências

anoitece
o paladar do céu avança
a linha, os lugares suaves
a vida leve
faço nada
nem barulho

venta
a noite é azul
quanta lua


"uma das decorrências da teoria da relatividade
é que toda a influência entre dois corpos
está condicionada ao limite da velocidade da luz.
determinados pares de partículas têm um
comportamento indissolúvel e instantaneamente ligado,
não importando a distância entre elas."

sobre a geografia interior . 2004



1.
a moça de blusa amarela
anda pela rua
com sapatos de vento


2.
o sol 
brinca de roda
na pele do céu


3.
a forma que difere
outra longa história  


4.
a penumbra entrecorta
a cintilação da tarde
a intimidade úmida


5.
arisca
a saudade profunda
enleia-se em chama


6.
como simples relâmpago
o verso traça a noite


7.
o presságio desperta
ímpetos e vulvas


8.
noite
ainda que seja
é tão mais



9.
entre cães e árvore
o privilégio de exercer idiotices


10.
o verso destino
o poema destina


11.
a oliveira 
o cetro 
a umidade 

duo . 2003





1
de um lugar ao outro
a qualidade do breve


2
o qualquer lugar
a paisagem inútil
o risco na parede


3
os galhos do tempo
as mesmas estrelas
as águas que passam


4
penso em tirar do silêncio
os versos de te acordar


5
o vão da memória
o silêncio maduro
a fenda rendada


6
o desenho geométrico
uma palavra, mais outra, mais
o verso traçado de invisíveis


7
o tempo rói os móveis
os arcos nas nuvens
o prisma de cristal


8
o vidro verde
a sombra lançada
as coisas ditas na chuva


9
na paisagem de fios
a dimensão da avenida
pende nos luminosos


10
em piqueniques flutuantes
entre utensílios e turbulência
a janela decompõe pavimentos





administração das coisas . 2002






1
a noite imersa na caverna
os catadores de algas
o porteiro qualquer de hotel


2
livre dos entraves
da linha divisória das coisas
o encanto de tudo


3
as circunstâncias
a intimidade dos limites


4
cessa o útil 
um poema e outro
o idioma das coisas

5
o acaso
a transversal da cidade
o acréscimo circunstancial


8
as cores incertas dos muros
dispõe a geometria lúdica